This is a Portuguese Veeky Forums thread

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pessoa, everything else is shit

Voltei a ler "Os Maias" e penso que merece cinco estrelas. No secundário, classificaria a novela com três estrelas pois detesto ler sobre o peso de estar obrigado. Alguém mais partilha desta experiência?

>Pessoa
>Olha pra mim que nao tenho gosto proprio e so sei regurgitar o que me dizem que é bom

Só gostas do pessoa porque ele era um neet assexual (nao por escolha propria) como tu.

>portugal
>literature
Literally a one hit wonder country where the "wonders" are authors.

>a novela

Ninguém te obriga a nada, ninguém lê o livro no secundário. Li o Memorial do Convento na altura porque gostei bastante, li os Maias depois e não gostei.

Não te deixes provocar.
A minha professora fez questão de fazer um teste sobre a novela. Pois bem que puderia ter lido um resumo, mas não teria tido a mesma nota no teste. O Memorial do Convento foi a mesma coisa. Detestei por estar a ser obrigado lê-lo. Mas agora que acabou a minha fase de realismo russo, percebo que não prestei o devido respeito à literatura portuguesa, que por sinal é bastante melhor que a literatura russa. Ao perceber que afinal adoro "Os Maias" decidi comprar "O Ano Da Morte de Ricardo Reis". Por mim, a literatura portuguesa é melhor que a russa.

E coisas atuais, alguém lê? Nos últimos anos só me interessou o Águalusa, de resto parece-me tudo excepcionalmente fraquinho. O Afonso Cruz também me parece interessante, mas ainda nao li nada dele

De momento só leio Castanheira Neves. Recomendas
Águalusa?

Bom dia gente

>wook.pt/autor/jose-eduardo-agualusa/15647
>Pretos, vampiros, nostalgia de ser um retornado e tentar apelar ao mercado brasileiro
huh

Aconselho lerem Castanheira Neves uma vez que é o único filósofo português conhecido internacionalmente: almedina.net/catalog/autores.php?autores_id=3066

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Estranho, eu só vejo uma lista de livros e prémios. /s

Mas só li o Teoria Geral do Esquecimento, e gostei. Ao contrário do que se vê agora quase exclusivamente, o agualusa consegue escrever uma personagem com verve

Pelo menos o Teoria Geral, que li basicamente por causa do Booker mas do qual gostei.

Nos dias de hoje a validação não vale nada. Principalmente quando pessoas como o Pedro Chagas Freitas também ganham imensos prémios e só escrevem romances pindéricos.

Esse escritor têm alguma crítica social interessante ou só escreve com o intuito de emocionar o leitor?

Só repeti o conteúdo da lista, estou me bem cagando para os prémios em si - fora a shortlist para o booker. Sim, o teoria geral tem crítica social. Qual é o problema de tentar "emocionar" o leitor já agora? Para ser seco nao precisas de literatura, tens nao ficcao. Mas pronto, sao os leitores que temos... pseudo intelectuais ressabiados sem ponta de noção artistica.

vinicius de moraes is the best poet in the language

Antes de mais, acalma-te. Eu não referi que havia qualquer problema com o intuito de emocionar, mas sim se a única característica da obra fosse essa. Tens meios intelectuais muito melhores para provocar só emoção - a música e o cinema como por exemplo. A literatura é o melhor e o principal meio intelectual para levar o leitor à abstracção. Da mesma maneira que tu exprimes que um livro sem emoção é "seco", se deve exprimir que um livro sem abstracção é pindérico. Ambos os extremos são desagradáveis.

E não precisas de ser boçal cada vez que exprimes a tua opinião.

Tudo bem excepto a bandeira monárquica.
Eça foi o mestre da prosa estética, hórrivel em temas/conteúdos, o que faz com que ele tenha pouca importância fora de Portugal.
Já o Pessoa é tudo o que o Eça não conseguiu ser, temos é uma população que não dá um peido por literatura sem ser o JRS e merdas estrangeiras traduzidas.

pobre samba meu
foi se misturando
se modernizando
e se perdeu
e o rebolado cade? nao tem mais
cade o tal gingando que mexe com a gente
coitado do meu samba mudou de repente
influencia do jazz

Porque achas que o Eça tem uma substância literária horrível?

Sem ser a Cidade e as Serras, tudo o que Eça se limitou a fazer foi identificar e ironizar sobre os problemas da sua sociedade, o que é bom em termos históricos mas irrelevante para leitores/apreciadores de outras línguas da nossa época e do futuro. Além do mais, ele foi apenas um autor do seu tempo, pegou na fórmula que estava a ser feita fora de Portugal e utilizou-a para ganhar dinheiro com isso. O que não tem nada de mal, mas se não fosse por cada puto no secundário ser obrigado a lê-lo, Eça cairia rapidamente no esquecimento.

Resumindo, ele não inovou em nada.

>
>Antes de mais, acalma-te. Eu não referi que havia qualquer problema com o intuito de emocionar, mas sim se a única característica da obra fosse essa. Tens meios intelectuais muito melhores para provocar só emoção - a música e o cinema como por exemplo. A literatura é o melhor e o principal meio intelectual para levar o leitor à abstracção.

Foda-se, que plebeu. Está tudo dito. E depois ainda vem tentar policiar o tom dos outros, que ainda é a melhor parte.

Continuas a ser boçal e nervoso. Achas que ninguém repara nos teus ataques vazios e emocionais? Só insultas. Não és capaz de contribuir para o diálogo com uma atitude menos juvenil?
> tudo o que Eça se limitou a fazer foi identificar e ironizar sobre os problemas da sua sociedade
Mas não será isso o maior feito de qualquer grande escritor? Turgenev é celebrado pela conceptualização da "pessoa supérflua" (uma crítica à moleza e fraqueza do homem romântico); Dostoevskij pela sua crítica à população russa em termos de educação, religião, influências estrangeiros e et cetera. De certeza que a atitude de um grande escritor é de criar uma revolução intelectual e mudar a mentalidade dos seus compatriotas.

your language is shit brah

Dude, parece que ficas-te preso no 12º ano com essa história da "crítica social" ser pináculo e sopé da literatura. Não quero estar a concordar com o outro por ele ser um idiota que dispara insultos a torto e a direito, but he's got a point. Pareces um caso de arrested development.

E vir para o Veeky Forums e não esperar uns insultos quando discordam connosco... bem... acho que isso diz tudo o que há a dizer.

your language is shit brah

> Só insultas.

Não mereces mais sua putinha, para quê tentar dialogar com um gajo que já se provou idiota? Agora estou só a gozar com a puta da tua cara, que é onde realmente há pano para mangas, ao contrário das tuas opiniões bacocas, provincianas e desatualizadas sobre literatura.

NOBUNAGA: Linguagens são cidades invisíveis;
Algumas soam como construções
De barro, outras de ferro, outras de pedra,
Algumas de madeira, outras de gelo,
O português, porém, parece império
Modelado com seda ou com vapor de mármore.
Alguns dizem que línguas se assemelham
A criaturas vivas, a organismos;
Se fosse assim o português teria
Raios de sol nutrindo-o por veias
E a dócil luz e prata sussurrante
Do luar como os ossos que o sustentam.
O português ecoa, aos meus ouvidos,
Como o oceano, mas seu marolar
É temperado com baunilha, e não
Com sal: seus sons emanam a voz e hálito
Das sereias, porém tal mar de sílabas,
Se sabe deslizar manso e elegante
(Como as ondas que o vento não fermenta,
Qual anjo-fêmea a ronronar, clamando
Por carícias), também ousa explodir
E espumar como as águas em tormenta,
E então a fala agride, e corta, e estala,
A língua chicoteia, e ouvi-la é como
Se arrastar entre um espinheiro, sob sol tórrido.
Certas vezes, também, se soa sonolenta,
Ouvi-la é deslocar-se em meio a um atoleiro,
Qual no ventre abafado e vegetal
De uma selva. Jamais, porém, é amarga:
É perfumada como um laranjal,
E as palavras, seus frutos, tantas vezes doces,
Podem até por vezes abrigarem vespas,
Ou ter sumo agridoce, e não mel puro,
Porém jamais a língua portuguesa
Tem voz acre, roufenha, voz que lembra as bruxas.

E até que ponto não estás a ser como ele? Fundamenta a tua discórdia comigo, não basta incorreres em hipócrisia com esses teus comentários - "secundário.lol" - e dares razão à outra pessoa. Não estou à espera que os meus compatriotas me insultem num tópico, onde todos nós estamos a ser bombardeados com comentários como estes:

Para lidar com idiotas já nos basta estes comentários. Se querem que o tópico viva então temos que ser amigáveis uns com os outros. Caso contrário o tópico morre porque não há diálogo possível.

> ao contrário das tuas opiniões bacocas, provincianas e desatualizadas sobre literatura.
A minha opinião é isso tudo porquê? Não me digas que és o típico positivista formalista. Eu sou substancialista e talvez seja isso a razão da discórdia.

Ele com certeza era extremamente talentoso, e poderia ter atingido muito mais do que realmente atingiu se tivesse se dedicado mais a poesia. Porém ele gostava de festas, de boêmia, de um estilo de vida pouco regrado: ter uma rotina, sentar na mesa de trabalho todos os dias, por ao menos três hortas, e trabalhar em seus poemas, isso não se adequava ao seu caráter. Caso o tivesse feito é bem possível que se tornasse talvez o maior poeta da língua, pois ele tinha um grande talento natural.

Um poema como este, apesar de aparentar ser simples, é uma verdadeira obra prima de concisão e imagística ("A rosa com cirrose", que verso magnífico!):

A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

youtube.com/watch?v=9YJaaVAQ5lE

Também concordo que é melhor no geral, mas não tem obras particulares tão grandes como algumas russas, e diz-se romance, não novela. Volto a dizer que isso de seres obrigado é má fé, as perguntas feitas nos testes não são complicadas ao ponto de precisares ler o livro se tiveres meio palmo de testa, e é parvoíce sentires qualquer tipo de incomodo por teres que ler isto ou aquilo.

Quais são as obras particulares que achas mais grandiosas que as nossas?

Romance e novela são sinónimos. E discordo que classificar "Os Maias" como um romance seja algo certo de se fazer.

As perguntas podiam não ser muito complicadas, mas a professora acabou por se certificar que liamos o livro através de questões que exigiam que descrevessemos algumas cenas em termos de cores, objectos e afins.

Sim, eu também acho parva a minha atitude no secundário de rebeldezinho, mas não posso fazer nada quanto a isso.

Agradeço o tom educado.

reported. saged.

this is an english language only board. take it to /int/

How petty you have to be not to allow for a few times people to discuss literature in their own language in a board full of threads dedicated to Pynchon and DFW, which contribute nothing to the quality of the place?

Please, do not spreads your misery upon others.

>ctrl + f saramago
>0 hits

>ports cant into their own good authors

lmao

see:

>"O Ano Da Morte de Ricardo Reis".

Anna Karenina, Irmãos Karamazov, etc., não existem livros que atinjam esse patamar na literatura portuguesa, mas existem autores cuja obra é mais coesa e de melhor qualidade.
Não existem muitos autores bons ainda vivos na literatura portuguesa, e ao contrário do que acontece na britânica em que muito do que é popular é também muito bom, em Portugal quando mais idiota e sentimental com o ordinário à mistura melhor, e vende-se isso como sinceridade. Lobo Antunes apesar de não ter nenhum "grande livro" tem uma obra bastante interessante, Gonçalo M. Tavares é interessante mas grande parte são coisas minúsculas à venda por 20€ e cansa rápido. Toda a moda de escritores como José Luis Peixoto, Valter Hugo Mãe, Afonso Cruz, etc. acho detestável. Do último século acho que Saramago ou Virgílio Ferreira aguentam-se a par ou acima de quaisquer outros.


Uma novela é uma forma curta de romance, não são sinónimos. A palavra romance descreve o que chamarias de "novel", não implica uma história de amor.

>announcing you've reported a thread

lad...

IEYASU: Português, um idioma
Alegre e saltitante, onde as palavras
Parecem ser meninas dançarinas,
Batendo palmas e enlaçando os corpos
Numa manhã de sol, sob céus de trigo.

meme country with meme lit

El portugués es una bastardización del español.

L'espagnol n'est que le français étant prononcé incorrectement

Boa tarde amigos. Alguém tem recomendações de boas obras recentes? Obrigado

Michel Laub, Diário da queda

>Por mim, a literatura portuguesa é melhor que a russa
No, just no. Our literature is good but russian literature is astonishing.

Saramago was mentioned here:
and in here:

o-ok

carry on then friends.

>No, just no. Our literature is good but russian literature is astonishing

Você domina o russo?

Alguém conhece/recomenda Bocage? Só conheço ele por algumas traduções dele de Ovídio.

Aliás, algum autor Português relevante dos últimos 50 anos? Só conheço Pessoa, Camões, Saramago e Eça

mau dia p'ra você

Algúem já leu Lourenço Mutarelli? thoughts?

Obviously not. Translations can't express in 100% what russian authors meant, but the english translations are solid enough for me.

Eu li O Natimorto. Ele sabe escrever.

Sinceramente acho que a literatura russa é sobrevalorizada até à exaustão e isto vem de uma pessoa que aprendeu russo por amar o "Idiota" de Dostoevskij. Eu não vejo nada de especial nessas obras que enunciaste. A Anna Karenina é a Madame Bovary russa: é o típico romance romântico que trata do adultério feminino e de como o mesmo leva à perdição. Quantos romances não temos nós assim no mesmo período ou até anterior? E eu nem acho Tolstoj nada de outro mundo. Para mim é daqueles escritores popularizados por ser russo (logo obscuro, longínquo e misterioso) e não por ter uma mensagem realmente interessante. Turgenev faz tudo o que Tolstoj faz e muito melhor, só que é completamente desprezado. Foi este grande crítico da decadência moral, da superfluidade e do niilismo que conseguiu mostrar à população russa o quão fracos eles estavam - como por exemplo em País e Filhos, Primeiro Amor, Rudin e et cetera. Pessoas como Tolstoj e Dostoevskij eram apenas velhos do Restelo a apelar aos velhos costumes e tradições por acharem a ocidentalização algo penoso - puro saudosismo com a sugestão de ideias cristãos. Ao menos Eça, Antero, Saramago, Bessa e outros apontam os defeitos na nossa sociedade e dão sugestões mais apelativas do que reforçar a instituição religiosa do país.

A mesmo coisa se diz dos Irmãos Karamazov. Foi o livro que fez abandonar o realismo russo, isto porque detestei o livro: é altamente biográfico (a um nível escandoloso); a parte do processo é só ataques pessoais; há demasiados excertos de artigos que ele publicava como jornalista; repetição constante das personagens tipo que ele cria nas obras anteriores; pouco desenvolvimento em termos de prosa. O livro não é muito mau, mas o facto de este fórum o sobrevalorizar ao ponto de o endeusar torna-se ridículo por não ser verdade. O livro não é assim tão bom, e isto especialmente para quem sabe história russa. É um livro que os russos lêem no nono ano, por amor de Deus.. Só os estrangeiros é que fazem o culto enorme à volta deste livro.

Talvez esteja ser demasiado crítico com o realismo russo, mas estou certo que irás discordar e provavelmente contra-argumentar (o que é excelente).

De resto, concordo absolutamente contigo (até na tua correcção novela v. romance).
Traduções de Bocage? Não és português?

Não foi isso o que quis dizer, disse que a única coisa que conheço dele são as traduções que ele fez de Ovídio para o português, da obra dele não conheço nada.

>facto
>correcção
Vocês portugueses gostam de rasgar o Acordo

Concordo em boa parte com a sua visão sobre a valorização de autores russos, porém essa análise de Ana Karenina como sendo "apenas" um romance sobre adultério é uma simplificação obscena da obra. Ela é muito mais do que a sua trama, boa parte da obra é o desenvolvimento psicológico dos personagens a uma maneira que poucos autores fizeram antes dele (só me vem a cabeça Shakespeare), descrevendo eles com "maturidade e justiça", no sentido em que nenhum personagem é unidimensional ou faz ações simplesmente para dar continuidade à história, tudo é fantasticamente coerente e justificado. Nem nos contos de Tchekov eu encontrei personagens mais humanos, enquanto que, por exemplo, os personagens de Dostoievski ou são extensões do próprio autor ou são invenções fantásticas (como as prostitutas puras e o próprio Míchkin). Além de que existe toda a história "secundária" do Levin que é quase uma obra á parte.

Aliás, na maioria das vezes a trama por si é o de menos, mas sim como o tema é abordado, os personagens são construídos, o estilo utilizado pelo autor, etc etc

Eu ainda adoro Dostoievski e Tolstoy, mas por razões diferentes. Eles para mim são quase opostos, ambos são artistas que contém uma quantidade considerável de filosia em suas obras, eu adoro ler a filosofia nas obras de Dostoievski, mas a sua parte "artística" peca em vários quesitos, enquanto que Tolstoy é um artística genial, mas um filósofo medíocre.

Subhumans.

>mfw subhumans have better, deeper discussion about literature than amerilards ever will
haha enjoy your diabetes

Ah, interpretei mal. Sim, eu adoro Bocage pelo facto de ser o nosso poeta mais ordinário e burlesco! É uma grande lufada de ar fresco face excessivo elitismo aristocrático que abundava na literatura portuguesa. Peço que leiam este livro deste grande senhor:

goodreads.com/book/show/8999952-poesias-er-ticas-burlescas-e-sat-ricas

“A vida é filha da puta,
A puta, é filha da vida...
Nunca vi tanto filho da puta,
Na puta da minha vida!”

Não vos anima esta quadra?

O acordo ortográfico é muito indesejado em Portugal, Indesejado ao ponto de o nosso Presidente da República ter como promessa eleitoral introduzir uma proposta no TC para que o acordo seja declarado como inconstitucional!

Obscena! Adorei o adjectivo! Pois bem, se calhar sou demasiado austero com Anna Karenina, ou se calhar não, mas julgo que o nosso desacordo se situa na velha querela substancialismo v. formalismo. Eu num romance valorizo mais a susbtância (mensagem, crítica, filosofia, zeitgeist...) do que a forma (prosa, desenvolvimento, vernáculo...)e talvez por isso tenha achado aborrecido a lenga-lengua da Anna Karenina. Repara, eu sou português, e como tal quero perguntas e respostas para os problemas portugueses. A problemática russa pode-me interessar como mera curiosidade, mas nunca ao ponto de ultrapassar a problemática portuguesa! Uma pleno cidadão deve ter interesse na literatura do seu país, pois é com a sua problemática que mais empatia vai nutrir. Que entendemos e até que ponto se pode entender a Rússia no séc. XIX? Mais vale saber como era o nosso país e como se pensava em dada altura - não perder o elo de ligação com as gerações anteriores. Por isso, por mais que seja da maior utilidade ler Flaubert (o grande proponente do adultério burguês) é sempre também útil ler "Vale Abraão" de Agustina.

É um daqueles pontos que não vale a pena discutir. Tu amas a forma e eu a substância. São amores.

Face a Dostoevskij: ainda estou amuado. Estava à espera que o Irmãos Karamazov fosse tão bom ou melhor que o Idiota, mas foi apenas uma desilusão, mas é um grande autor, sem dúvida. E concordo absolutamente contigo relativamente a Tolstoj!

Você é muito educado. É curioso como eu estou em completo desacordo com algumas de suas opiniões, porém não posso deixar de estimar sua forma culta e serena de se expressar. Parabenizo você por isso.

Eu não concordo com você nos seguintes pontos:

>Eu num romance valorizo mais a susbtância (mensagem, crítica, filosofia, zeitgeist...) do que a forma (prosa, desenvolvimento, vernáculo...)e talvez por isso tenha achado aborrecido a lenga-lengua da Anna Karenina. Repara, eu sou português, e como tal quero perguntas e respostas para os problemas portugueses. A problemática russa pode-me interessar como mera curiosidade, mas nunca ao ponto de ultrapassar a problemática portuguesa! Uma pleno cidadão deve ter interesse na literatura do seu país, pois é com a sua problemática que mais empatia vai nutrir. Que entendemos e até que ponto se pode entender a Rússia no séc. XIX?

e

>A Anna Karenina é a Madame Bovary russa: é o típico romance romântico que trata do adultério feminino e de como o mesmo leva à perdição. Quantos romances não temos nós assim no mesmo período ou até anterior? E eu nem acho Tolstoj nada de outro mundo. Para mim é daqueles escritores popularizados por ser russo (logo obscuro, longínquo e misterioso) e não por ter uma mensagem realmente interessante.

Na minha opinião você não está prestando atenção em um dos pontos mais importantes de Tolstói: a sua capacidade de criar personagens que sejam extremamente reais, bem como de analisar cenas e situações até os mais mínimos detalhes. Ele presta atenção em tudo em relação ao humano: pequenos gestos; tiques pessoais; a forma como as feições do rosto se alteram; a entonação de como uma pessoa fala; aquilo que a pessoa pensa ao falar algo; aquilo que a pessoa deseja mas não revela: todas as várias camadas que compõem um indivíduo. Jamais vi autor algum com a mesma sensibilidade. Se você ler os diários de Tolstói, perceberá que ele era extremamente egocêntrico e, ao mesmo tempo, sensível. Ele se preocupava muito com o que os outros pensavam dele, em como ele estava sendo percebido pelos outros, de forma que ele ficava analisando de forma obsessiva tudo que tinha feito, e como tinha feito, e o que as pessoas ao redor tinham dito ou como tinham agido, e ele próprio ficava em sua mente tentando reconstruir os pensamentos que as outras pessoas (professores, irmãos, colegas, princesas e barões, prostitutas, mujiques, colegas soldados, etc, etc.).

Constantemente, ao ler Tolstói, você se depara com trechos onde você diz para si mesmo: "Sim, é exatamente assim que acontece, é exatamente assim que as coisas são: se eu fosse descrever isso eu descreveria exatamente dessa forma...quero dizer, se eu conseguisse lembrar, na hora de escrever, que as coisas são assim": e eis o centro da questão: ao ler você sabe que a colocação é perfeita, que serve como uma luva, porém se você tentasse escrever uma mesma cena você não iria lembrar dos mesmos detalhes. Tolstói não só estava sempre prestando atenção e captando cada minúsculo gérme e grão de pó do ambiente, mas também tinha a capacidade de lembrar de inserir esses detalhes mais tarde, em sua ficção.

Essa capacidade de absorção de detalhes não era restrita apenas a seres humanos. Tolstói também captava muitos detalhes do mundo ao seu redor: cheiros, cores, formas, gostos. Ele prestava atenção nos insetos na grama, no musgo nos troncos das árvores, nas folhas caídas que apodreciam nos bosques e no cheiro que emanava delas junto com o cheiro de lama. Quando ele descreve a cena da colheita dos ceifeiros em Anna Karênina ele fala do cheiro picante, de erva agridoce, que a grama tem quando é lacerada, por exemplo: ele faz isso constantemente, e com vários lugares, tanto na natureza quanto na cidade ou na guerra.

Você diz:

>Eu num romance valorizo mais a susbtância (mensagem, crítica, filosofia, zeitgeist...)
>E eu nem acho Tolstoj nada de outro mundo. Para mim é daqueles escritores popularizados por ser russo (logo obscuro, longínquo e misterioso) e não por ter uma mensagem realmente interessante.

Eu não creio que a maior parte dos grandes escritores possa fugir de uma série de mesmos grandes temas, temas que são tão abrangentes que podem sempre ser remodelados em formas diferentes, mas que, no fim das contas, são sempre os mesmos. Temos o amor, a morte, as paixões, a política, a miséria, a ambição, a riqueza, a pobreza, a guerra, por exemplo: temas que não são originais, onde você vê escritores dizendo sempre as mesmas coisas, porém cada um de sua maneira.

Acho que, se alguém tem interesse em adentrar mais o mundo das idéias, é melhor estudar diretamente física, química, biologia; a ficção, na sua maior parte, é algo que lida com as mesmas questões de sempre. Acho que um escritor é muito mais grandioso por ser capaz de criar grandes e memoráveis personagens do que por apresentar uma filosofia ou idéia radical (o que, mesmo que o autor queira fazer, será bastante complexo).

Isto. Ninguém lê os Mais no secundário porque O Eça era um burguesinho a brincar aos escritores e qualquer miúdo charrado no 11º ano vê que a única coisa passível de sustentar interesse infelizmente é pseudo jailbait irrelevante de séc XIX. Li o Memorial na integra e foi o livro que me abriu as portas para o que um livro pode ser. O Ano da morte é um pouco mais interessante acho e podia até substituir o MC como obra integrante do programa nacional de leitura para o 12º. Lobo Antunes também podia ser falado, ele mastiga-se demasiado com a velha conversa de UNITA's e MPLA's mas a imagética dele é super bonita e convidativa. Já tou a imaginar os miúdos todos a rirem-se feitos parolos quando lessem 'merda' ou 'caralho' num livro impresso.

Comentário suposto remeter para Foi lapso

Que o tópico dê um pequeno pulo para eu amanhã responder a quem tenho de responder e isto não ser apagado

existe algum lugar na interwebs em que se possa discutir literatura em português? As comunidades do Skoob estão todas mortas, e a maioria é sobre YA

Agradeço e retribuo sinceramente o elogio. E ainda bem que estamos em desacordo, pois assim é que se aprende!

Pois bem, como eu já me pronunciei este querela estre nós fundamenta-se na velha batalha dos substancialistas contra os formalistas. Eu não sou completamente substancialista, aliás eu acredito que deve haver um bom equilibrio entre a forma e a substância - de que vale um livro com uma bela mensagem, mas com uma escrita de chancelaria, má pontuação...?; de que vale um livro com uma bela prosa, excelentes personagens, boa narração se a substância é inexistente? Ambos casos são maus, mas para mim valorizar-se a forma é pior. A forma traduz-se em estética e a estética pouco nada melhora a minha condição de vida, a condição de vida dos meus compatriotas e do meu país. Contudo, eu percebo a importância da estética e a relevância do seu progresso, mas não julgo que seja algo fatalmente decisivo para um livro. Para mim um livro formal e oco é como uma mulher extremamente bonita e insípida - só tem utilidade para o prazer e para a vida social, mas fora desses círculos é inútil. É de muito mais valor uma mulher com atributos femininos que sirva para criar uma senpaiília; um livro que sirva para um objectivo.

Podemos celebrar Tolstoj pela sua sensibilidade e mérito artístico, sem dúvida! Ainda assim para mim não é isso que importa fora do mundo académico literário, ou pelo menos não devia ser o que importa. O melhor meio para uma revolução intelectual é o meio literário. A actividade prazerosa de apreciar o que é belo pode ser relaxante, mas nós como povos lusitanos e latinos não podemos ter este luxo. Ambas as nossas nações estão bastante atrasadas e por isso é preciso provocar uma mudança através do desenvolvimento da substância.

Adorei alguns factos que me ensinaste sobre Tolstoj. Nem fazia ideia do facto de ser egocêntrico!

Eu espero que este tópico se torna num pequeno espaço para discutir literatura em português.

O problema é que esse tópico pode ser apagado a qualquer momento por infringir as regras do fórum, e com isso vamos perder toda a conversa, o que é uma lástima pois esse foi o tópico mais útil nesse fórum em muito tempo.

Eu creio que a literatura, como as demais formas arte, não pode ser resumida em um punhado de elementos, no sentido em que não dá para dizer que para uma obra ser boa ela precisa, necessariamente, conter certas características específicas. Eu creio que cada grande autor tem uma motivação diferente, um charme diferente, alguns gostam de utilizar a mídia como forma de propagar sua ideologia, filosia de vida, visão do mundo, visão política, etc, outros utilizam a mídia puramente como forma de se expressar, entre esses extremos existe um imenso degradê.

Também não acho que todo autor deva por em seus livros mensagens e críticas sócio-políticas, e nem sempre uma leitura com "finalidade estética" é para se apreciar o belo no sentido literal da palavra, pois em muitos autores (como Kafka, Beckett, Gombrowicz e de certa forma Woolf) existe sem dúvida um foco estético não no que é bonito, mas na ansiedade, tristeza, horror, perversão, o bizarro, o errado, etc. Essa variedade é o que eu pessoalmente amo na literatura. Em outros autores eu gosto da forma em como critica social e política são realizadas, como nas obras de Zola, Voltaire, Balzac, Tchekov, etc. Mas minha opinião é bem tendenciosa, pois se não eles não tivessem uma abordagem artística eu provavelmente não teria me interessado por suas obras.

Vale notar que eu não tenho formação acadêmica de humanas mas sim de exatas, então ler para mim é como apreciar qualquer outra mídia artística. Na minha opinião nós lusófonos, já temos (na verdade tivemos) autores com voz própria, com estilo literário complexos e únicos que podem ficar lado a lado com os grandes autores da história. Para mim Rosa, Pessoa, Drummond, Assis e Camões são tão merecedores de estarem no cânone ocidental quanto Proust, Virgílio e Joyce. Creio que nossas nações precisem na realidade de uma revolução cultural que se inicie sistema educacional, nossos grandes nomes não são elogiados pela mídia, não são relembrados e discutidos abertamente. Uma revolução política (pelo menos aqui no Brasil) é algo de extrema importância, porém não acho que devamos desencorajar potenciais escritos que queiram se expressar de forma mais artística, e não política, em suas obras.

Vale notar que a nossa língua, por não fazer parte de nenhuma grande potência, não é valorizada pelas demais nações, é muito mais uma questão de ignorância por partes deles do que por falta de mérito da nossa.

>tfw tried to get into Saramago and Pessoa and found them boring.

Maybe it's the translators' fault.

Só vim aqui deixar um Rui Nunes

Adorei o comentário. Juro que está fenomenal, mas quero dar trato antes de tudo à possibilidade de o tópico ser apagado.

Eu já denunciei alguns comentários neste tópico (nomeadamente aquele que nos chamava a todos subhumanos) e foram apagados. Por isso, julgo que estamos a ser tolerados pelo moderadores. E não achei nenhuma regra no tópico afixado que remetesse para a impossibilidade de se falar numa língua que não o inglês! Desde que não hajam muitas imagens suspeitas, respostas só em maísculas e coisas assim não devemos ser censurados.

Agora sobre a literatura em sentido estrito! Concordo absolutamente com a facto de não fazermos publicidade à nossa cultura e de nos impormos ao mundo! Mas isso é algo típico dos portugueses, que os brasileiros devem ter herdado de nós.


Peço desculpa por não me estar a desenvolver muito, mas estou bastante cansado e pouco mais consigo esmiuçar que isto!

Beloved foreigner, I doubt that it is the translator's fault. Pessoa to a cheerful person is always going to be read as if he's bitter, melancholic and a wimp. If you aren't acquainted with the Portuguese history, culture and literature then Pessoa isn't for you due to the fact that all his works are full with obscure Portuguese references. Whilst, Saramago should be fairly easier to read the problem is that all his life's work follows a very liberal tradition of irreligion. Both authors criticize specific institutions that you would need to study to really enjoy these authors' books.

Tás na board de literatura do Veeky Forums. Comentários como esse são o pão nosso, não sei porque é que te deixas afetar não é como se fosse sequer sentido é só fogo de vista.