Gostaria de um feedback. Essa é a abertura do meu mais recente romance, inspirado em Fausto:
Calma, leve e sonolenta a luz entrava pela janela, alterando sua sombra e formato conforme o movimento suave da cortina. Um som nem grave nem agudo, prolongado, populava esse ambiente etéreo: era o vento, que assobiava passando pelas frestas da madeira. O farfalhar contínuo das árvores anciãs ao lado completava a sinfonia melódica, finalizando languidamente com um lento arpejo.
Wagner estava estirado sobre sua antiga cadeira rangente, com os braços níveos pendendo de cada lado, parcialmente apoiados no encosto. Seus olhos escuríssimos demonstravam uma altivez, embora fossem também inocentes ao ponto da infantilidade, mostrando que essa altivez não era fruto de vileza alguma, mas sim de ambições incomparáveis. Naquele momento, seu negro olhar era escurecido por piscadelas involuntárias, por um peso insuportável em suas pálpebras. Essa parcial inconsciência tirava-lhe a capacidade de julgamentos razoáveis ou de lógica alguma, e sua mente, substituindo a visão obstruída, instilava-lhe memórias antigas e recordações de tempos remotos que sequer conhecera. E pendendo entre esses limites do físico e do fictício, experimentava um transcedentalismo sem igual: a lucidez da realidade combinada com o misticismo de um sonho.
Por vezes um trovão surgia, incerto de sua natureza, retumbante e decoroso viajando pelo quarto. E seus olhos, ainda lânguidos, abriam-se parecendo buscar o responsável pelo ruído inesperado, perlustrando todo o laboratório. Mas sua consciência permanecia morta, e a visão agia sozinha.
O doutor, que já dormia sonoramente em seu confortável assento, despertou daquela maneira súbita que nos é típica em dias vagos, nos preguiçosos domingos onde nenhuma obrigação há de nos incomodar, e nem o dormir nem o acordar podem ser considerados atípicos ou luxuosos, mas simples prazeres triviais e deliciosos. Abriu os olhos rapidamente, e a consciência, como um rio perfurando um --dique--, invadiu sua alma de maneira inebriante, dando vida a seu corpo. Sem pressa, pôs-se de pé em meio a todo o silêncio, perscrutando o ambiente brumoso, e com um assobio vestiu seu manto branco enquanto subia as escadas. Atravessando o cômodo principal de sua casa, logo encontrou-se na rua. O céu estava pintado de diferentes matizes, e um lado dele permanecia colorido de um azul morto, cinzento e escuro, enquanto os outros eram adornados por laranjas e amarelos vivazes, e até um tímido vermelho níveo escondia-se ao horizonte, tendo sua tonalidade quase imperceptível em meio às outras. O sol evidentemente escondia-se por detrás dos vales distantes, além da virginal relva e dos belos campos floridos que tanto caracterizavam o vilarejo. O dia, só então, começava a se formar.