ITT: Luso literature thread, foreigners welcome

ITT: Luso literature thread, foreigners welcome

My favorite author is Augusto dos Anjos, but I've already reread it at least five times. I enjoyed Cruz e Souza, but it's nowhere near the quality of Augusto. Could someone recommend me another author, in the same vein of him, that I might enjoy?

Other urls found in this thread:

pt.wikipedia.org/wiki/Alphonsus_de_Guimaraens
youtube.com/watch?v=LbK3oh10m_w
youtube.com/watch?v=f5QzroijYfY
youtube.com/watch?v=vG_b8acPZH0
twitter.com/NSFWRedditVideo

Here, the favorite poet of some guys that fonded the avant-garde school called Concretismo:

pt.wikipedia.org/wiki/Alphonsus_de_Guimaraens

Also, can you give me some feedback on this poem I'm working on?

Here's a poem I wrote too, I'd be thankful for any feedback

Queria eu ser como as flores de minha terra.
Ter em minhas pétalas o fulgor de toda uma vida
Queria eu desabrochar em toda primavera.
Queria eu viver como poesia proferida!

Fulgurar incontingente na maré universal
Que é a rutilância interior d'uma flor!
Nadar nos campos etéreos de um coral
Como nadam os peixes do meu amor!

Sim, amo, e se amo quero 'inda mais amar.
Amar a ininteligível sensualidade do ser
Que sem entender, amamos!

O conteúdo está bom, mas formalmente um pouco estranho. Gostei, mesmo assim.

Bumping with another poem of mine, please give me feedback. : /

Soneto de timidez
para JCM Neto

Quando escolhido sou, depressa sumo
Quando que escolher eu tenho, lavo as mãos
Diante da gente sou pior que fumo
A se esfumaçar diante da visão

Por já nascer maduro me inquieto
Meu quarto sem cortinas denuncia
Que de tanto haver lido a poesia
Eu já não mais sei como ser direto

Sinto-me preso como vaga-lume
Enredado nas teias de uma aranha
Esperando fuga ou tornar-me estrume

Esta timidez que me acompanha
Muitas vezes é falsa e só costume
De comportar-me feito pessoa estranha

Sobre seu poema, com mais detalhes.

Como disse antes, o conteúdo está bom, e também o ritmo, o que acaba fazendo da métrica algo de menor importância; mas veja que ele é uma mistura indecisa de verso livre e metrificado, começando com um decassílabo heróico e depois utilizando versos bárbaros de mais de doze sílabas poéticas, o que dá um charme estranho e até agradável. Gostei do conteúdo, é singelo e ao mesmo tempo forte em imagem.

Perdão, o primeiro verso é um verso de 11 e não 10 sílabas poéticas, com acento na sexta.

Prefiro imensamente este ao outro. Achei ótimo, bem sentimental e a construção que leva até o desfecho explicativo é intrigante. O maior problema, na minha opinião, é o verso derradeiro, que não é tão surpreendente como aparenta tentar ser. Mas isso é mais um problema de escolha de palavras do que do verso em si.

E quanto ao início, JCM Neto é seu amigo? Só achei curioso, Augusto dos Anjos compôs muitos poemas para Santos Neto.

Não sou a melhor pessoa para julgar esse poema, já que não sou muito familiarizado com esse tipo. Mas em meu julgamento de leigo, está agradável, e lembra-me de alguns poemas de Homero.

Sim, concordo plenamente. Embora eu ame sonetos, tenho dificuldade em compô-los, e acabo sempre fazendo poesia sem métrica e às vezes até sem rima. Na verdade, sempre li poesia mas só recentemente vim a escrever, antes costumava dedicar-me a contos e romances. Quanto às diferenças entre as estrofes, é porque escrevi a primeira há uma semana, e as duas últimas somente hoje. Como ficou claro, poesia composta em tempos diferentes torna-se fruto de sentimentos diferentes.

Outro poema meu:

Não hão lágrimas
No vergonhoso funeral deste miserável!
É o visitante inesperado,
É a desgostosa presença não antecipada.

Chama-se alegria - nota o nome!
Procurei-o por toda a vida,
Nos becos e vielas e em todo caminho obscuro
E até pelo inferno eu me venturo!

Vi-o somente em sonhos,
Visões e anelos baldados.
Tinha nele meu alvo final
Era por ele que vivia, fugaz animal!

Mas hoje, enfim, vejo
Que esta tão rara e fúlgida jóia
Morreu! E não ouso lágrima verter
Por quem por mim nunca verteu.

Obrigado pelo retorno!

>E quanto ao início, JCM Neto é seu amigo?

É mais uma dedicatória de brincadeira. É João Cabral de Melo Neto, a quem não agradava os sonetos. Ele é um poeta estupendo, ao meu gosto pelo menos, e também fez poemas de inspiração simbolista no início da carreira poética, como também os fez Manuel Bandeira (caso você seja o OP).

> Embora eu ame sonetos, tenho dificuldade em compô-los, e acabo sempre fazendo poesia sem métrica e às vezes até sem rima.

Em experiência pessoal, eu conto nos dedos e vou tentando ajustar as palavras nas tônicas corretas, seja heróico ou martelo. Poesia rimada é uma subversão da poesia clássica, né? Poesia clássica em sentido estrito é com versos brancos e o ritmo é cadenciado pelas tônicas que não podem ser muito esparsas, por isso são tão difíceis de fazer, como a poesia sem métrica, cadenciada da mesma maneira, ao estilo latino.

>outro poema meu

Muito bom! Muito bom mesmo, você tem um ouvido invejável.

Eis mais um poema recente que escrevi:

Caetana

Ainda além daquele riacho
Vi uma onça dos olhos verdes
Carregava no dorso
Uma criança viva
Viva como os olhos claros
Daquela onça parda e arisca
A menina que sorria
Sacolejava nas costas
Do animal na beira d'agua
E aquela visão bizarra
Não me deixava dormir
Na calada da noite
Escura e sem luar
De um mês de Abril reimoso
Quarto mês desolador
Naquele mês perdi
Meu amor, meu encanto
Perdi a filha, que a Morte levou

*(uma coisa, tente ler meus poemas em voz alta, os escrevo com esta intenção)

Que tal procurar outros parnasianos?

Olavo Bilac, quiçá, Até mesmo Alberto de Oliveira.

Da thread, li alguns poemas e gostei muito do .
Anão, sua poesia está bem estruturada, não é ruim. Chame-a apenas de 'estudo, porque você já sabe construir a poesia. Agora procure temas mais carregados em profundidade e escreva.

De 100, com certeza terá ao menos 1 poema acima da média.

Como o português é belo, puta que pariu!

Augusto dos Anjos não era parnasiano, muito pelo contrário, vários poemas dele eram críticas ao parnasianismo.

E Caetana é do outro user, eu fiz o segundo. Concordo muito com o que disse, eu costumo ter muitas reflexões que transformo em poesia, mas as faço rapidamente porque temo que o sentimento fuja. Mas daqui pra frente planejarei-os mais.

Eu falo português, inglês e alemão, e sem dúvida o português é meu preferido. É uma linguagem sem igual, a pronúncia, a sonoridade, o extenso vocabulário e a maleabilidade das palavras faz dessa língua a melhor para a poesia, sem mais. Não suporto ler poesia em outra linguagem, nem mesmo traduzido. Tenho pena de quem só conhece o inglês, porque de todas o inglês com certeza é a pior para poesia e literatura. É, afinal, uma linguagem coloquial por natureza.

Escute isso:
youtube.com/watch?v=LbK3oh10m_w

Não tem linguagem que um poeta de bom ouvido não faça de boa ferramenta.

After that listen to this (not poetry) but it gives a fucking great complement to the poem:

youtube.com/watch?v=f5QzroijYfY

Estou trabalhando em um poema/romance-versificado. Tem aqui um diálogo de dois personagens, planejo que todos sejam "cantados" em redondilha maior. O corpo do poema é em decassílabos brancos (a tônica não está bem trabalhada, confesso, não por preguiça mas por inépcia mesmo). O que acham?

(...)

Ao que o Sol batia do lado esquerdo
Da Igreja modesta ao entardecer
As moças muito se emperequitavam
Afim de encontrar os jovens solteiros
Que durante o Sábado, o dia passavam
A bebericar licores no riacho
Que cortava a cidade bem ao meio

Chilrava um Bem-te-vi no umbuzeiro
E Antenor de Dona Zefinha saía
Do banho para encontrar Chicão
Estatelado em uma ribeira bêbado,
Era alegre e cantava uma marchinha
De uma mulata furzaqueira e douda
Que aprendeu cantar no bar de seu João

Terminada a canção se levantou
Permanecendo sentado no chão
Onde Antenor também foi se sentar
Para ter com ele sobre a canção
Que o amigo só acabara de cantar
E esquadrinhando a bolsa que levara
Tirou uma palha, acendeu e perguntou:

"Chiquihho, meu bom amigo
Diz para teu companheiro
Que tu sabes sem jazigo
Desde o mês de Fevereiro
Que samba é este que tu bates?
Pois muito me agrada ouvi-lo
Se cantar de novo podes
Faze-o amigo, como um grilo
Que sem cobrar um vintém
Entoando sua linda música
Todos neste mundo o sabem
Ser bela, risonha e lúdica!"

Entre conversas
Penso em usar redondilhas menores (cinco sílabas poéticas) em estrofes curtas, rimadas ou não*

Sorrindo Chicão
Olhava Antenor,
Até que falou:

"Antenor, querido poeta
Com muito prazer atende
Teu pedido este pateta
Que em grande estima tu tendes
Se o licor me permitir
A composição lembrar
Pois que já estou para cair
Deitado no chão e sonhar
Mas passa cá aquela viola
Pois quero acompanhamento
Para já e sem mais demora
Dá-me aqui o vadio instrumento!"

Último poema antes de dormir:

Tenho uma aranha na cama
mas não faço alarde
A aranha é minha amiga
de longa amizade
Trouxe-me uma mosca e
três potós e
outra aranha,
menor
Tenho uma aranha em minha cama
Se me ama, não sei
Mas dá cabo de tudo que é bicho,
menos de mim

Ficou bom, o diálogo está bem fluido, e a escolha de palavras transmite uma sensação de languidez, uma certa preguiça ou ebriedade, que imagino ter sido proposital.

Ficou bom também, só um pouco vago. Durante o poema, achei que a aranha seria uma metáfora para algo.

>achei que a aranha seria uma metáfora para algo

Talvez a aranha seja uma metáfora para falta de algo? :)

Ou quem sabe, só uma aranha mesmo.

O bom poeta faz poesia com até três palavras.

Nunca tinha escutado este poema dele, mas como é impactante! A voz dele complementa a ideia perfeitamente, criando uma imagem mental maravilhosa. Mas novamente, esse poema em português, ou alemão, seria muito mais impactante. Como eu disse, o português é a língua com a melhor sonoridade que conheço, e o bom poeta sabe disso perfeitamente. Analisando os maiores poemas brasileiros, será possível notar que quando o autor desejava passar um sentimento de suavidade, evitava o uso de consoantes rígidas como o T, o D ou o Q, e para versos mais esplendorosos, abusava das mesmas consoantes. Isso é possível no inglês, como pode-se ver nesse poema de Ezra Pound, mas o vasto vocabulário do português permite isso com muito mais facilidade.

Sim, mas temos certas limitações de vocábulos. Eles têm mais vocábulos e maior liberdade rítmica, não acho que seja à toa que a poesia moderna nasceu em um país de língua inglesa.

Desculpe, a palavra não é vocábulo, mas fonema. Temos mais vocábulo, mas menos fonemas.

Perceba que o tambor acompanha as longas do poema, é lindo!

Literally the brazillian Joyce
Too bad this book is "untranslatable"

>the brazillian Joyce

Thanks, I wanted to read it but now I won't

Have you ever seen the film?
youtube.com/watch?v=vG_b8acPZH0


Nah, it's not a Joyce-like work.

O presidente (que é poeta, [i]rs[/i]) não gosta do Macunaíma, acha que traz uma má imagem para o brasileiro, é de bolar de rir mesmo...

If you really want to know who is the Brazillian Joyce... pic related. I'm from the Northeast, sertanejo and can't understand 70% of what this man says in his works.

>Have you ever seen the film?

Nope, only low budget book adaptation I saw was O Triste Fim de Policarpo Quaresma
From Macunaíma=

Como vedes, assaz hemos aproveitada esta demora na ilustre terra bandeirante, e si não descuidamos do nosso talismã, por certo que não poupamos esforços nem vil metal, por aprendermos as coisas mais principais desta eviterna civilização latina, por que iniciemos quando for do nosso retorno ao Mato Virgem, uma sé rie de milhoramentos, que, muito nos facilitarão a exis tência, e mais espalhem nossa prosápia de nação culta entre as mais cultas do Universo. E por isso agora vos diremos algo sobre esta nobre cidade, pois que preten demos construir uma igual nos vossos domínios e Império nosso.

I see nothing difficult in this text, just an vintage way to write that can be immediately grasped by any well educated person.

From Guimarães Rosa's "Sagarara":

E Chíco Barqueiro não tinha dado opinião nenhuma, e
foi pescar. Mas, mal acabara de poitar a canoa e jogava o
anzol n'água, no meio do rio, quando, da margem, alguém
gritou e gesticulou. Não havia dúvida - era o papudo chegando.
Chico Barqueiro colheu a linha, deu boas varejoadas, e
proejou, vindo-vindo, para a beira de cá.
Turíbio Todo, meiamente ansioso, quis começar com explicações, sobre os tiros e tudo.
Mas o Chico, olhando-o
com mau modo, acenou-lhe que subisse para a balsa, e foi
puxar cá para dentro o cavalo baio, que resistia de pés juntos, querendo empinar. Depois o
balseiro desprendeu a corrente, deu um arranco de zinga, e a balsa - um ajoujo de
quatro canoas de proas chanfradas, sobreassoalhado e guarnecido de um gradil sem cancela
- balanceou e avançou.
Tur bio Todo se acomodara, e ficou vigiando o outro com
o rabo-do-olho, bem desconfiadíssimo. E nenhum falou. Os
feixes de água golpeavam o flanco da balsa, em jacto mole;
a argola rangia, em cima, no arame; e a correnteza marulhava, a montante.
Os dois homens e o cavalo estiveram quietos. Mas, justo
no meio do rio, o barqueiro, carrancudo, começou a encarar,
a encarar. Turíbio, de de-lado, abaixava a vista. E então o
outro não se pôde por mais tempo:
- O senhor é o sujeito meio ordinário, sem sustância,
e sem caráter! Se fosse homem, voltava ...

The problem is not exactly the way Guimarães writes, but the words he uses, you have to check the dictionary each five lines of text, and if you can't find a particular word here and there, don't be surprised, it's just the man creating new words out of already existing ones like he was writing in German.

Gostaria de um feedback. Essa é a abertura do meu mais recente romance, inspirado em Fausto:

Calma, leve e sonolenta a luz entrava pela janela, alterando sua sombra e formato conforme o movimento suave da cortina. Um som nem grave nem agudo, prolongado, populava esse ambiente etéreo: era o vento, que assobiava passando pelas frestas da madeira. O farfalhar contínuo das árvores anciãs ao lado completava a sinfonia melódica, finalizando languidamente com um lento arpejo.

Wagner estava estirado sobre sua antiga cadeira rangente, com os braços níveos pendendo de cada lado, parcialmente apoiados no encosto. Seus olhos escuríssimos demonstravam uma altivez, embora fossem também inocentes ao ponto da infantilidade, mostrando que essa altivez não era fruto de vileza alguma, mas sim de ambições incomparáveis. Naquele momento, seu negro olhar era escurecido por piscadelas involuntárias, por um peso insuportável em suas pálpebras. Essa parcial inconsciência tirava-lhe a capacidade de julgamentos razoáveis ou de lógica alguma, e sua mente, substituindo a visão obstruída, instilava-lhe memórias antigas e recordações de tempos remotos que sequer conhecera. E pendendo entre esses limites do físico e do fictício, experimentava um transcedentalismo sem igual: a lucidez da realidade combinada com o misticismo de um sonho.

Por vezes um trovão surgia, incerto de sua natureza, retumbante e decoroso viajando pelo quarto. E seus olhos, ainda lânguidos, abriam-se parecendo buscar o responsável pelo ruído inesperado, perlustrando todo o laboratório. Mas sua consciência permanecia morta, e a visão agia sozinha.

O doutor, que já dormia sonoramente em seu confortável assento, despertou daquela maneira súbita que nos é típica em dias vagos, nos preguiçosos domingos onde nenhuma obrigação há de nos incomodar, e nem o dormir nem o acordar podem ser considerados atípicos ou luxuosos, mas simples prazeres triviais e deliciosos. Abriu os olhos rapidamente, e a consciência, como um rio perfurando um --dique--, invadiu sua alma de maneira inebriante, dando vida a seu corpo. Sem pressa, pôs-se de pé em meio a todo o silêncio, perscrutando o ambiente brumoso, e com um assobio vestiu seu manto branco enquanto subia as escadas. Atravessando o cômodo principal de sua casa, logo encontrou-se na rua. O céu estava pintado de diferentes matizes, e um lado dele permanecia colorido de um azul morto, cinzento e escuro, enquanto os outros eram adornados por laranjas e amarelos vivazes, e até um tímido vermelho níveo escondia-se ao horizonte, tendo sua tonalidade quase imperceptível em meio às outras. O sol evidentemente escondia-se por detrás dos vales distantes, além da virginal relva e dos belos campos floridos que tanto caracterizavam o vilarejo. O dia, só então, começava a se formar.

Gostaria de um feedback. Essa é a abertura do meu mais recente romance, inspirado em Fausto:

Calma, leve e sonolenta a luz entrava pela janela, alterando sua sombra e formato conforme o movimento suave da cortina. Um som nem grave nem agudo, prolongado, populava esse ambiente etéreo: era o vento, que assobiava passando pelas frestas da madeira. O farfalhar contínuo das árvores anciãs ao lado completava a sinfonia melódica, finalizando languidamente com um lento arpejo.

Wagner estava estirado sobre sua antiga cadeira rangente, com os braços níveos pendendo de cada lado, parcialmente apoiados no encosto. Seus olhos escuríssimos demonstravam uma altivez, embora fossem também inocentes ao ponto da infantilidade, mostrando que essa altivez não era fruto de vileza alguma, mas sim de ambições incomparáveis. Naquele momento, seu negro olhar era escurecido por piscadelas involuntárias, por um peso insuportável em suas pálpebras. Essa parcial inconsciência tirava-lhe a capacidade de julgamentos razoáveis ou de lógica alguma, e sua mente, substituindo a visão obstruída, instilava-lhe memórias antigas e recordações de tempos remotos que sequer conhecera. E pendendo entre esses limites do físico e do fictício, experimentava um transcedentalismo sem igual: a lucidez da realidade combinada com o misticismo de um sonho.

Por vezes um trovão surgia, incerto de sua natureza, retumbante e decoroso viajando pelo quarto. E seus olhos, ainda lânguidos, abriam-se parecendo buscar o responsável pelo ruído inesperado, perlustrando todo o laboratório. Mas sua consciência permanecia morta, e a visão agia sozinha.

O doutor, que já dormia sonoramente em seu confortável assento, despertou daquela maneira súbita que nos é típica em dias vagos, nos preguiçosos domingos onde nenhuma obrigação há de nos incomodar, e nem o dormir nem o acordar podem ser considerados atípicos ou luxuosos, mas simples prazeres triviais e deliciosos. Abriu os olhos rapidamente, e a consciência, como um rio perfurando sua represa, invadiu sua alma de maneira inebriante, dando vida a seu corpo. Sem pressa, pôs-se de pé em meio a todo o silêncio, perscrutando o ambiente brumoso, e com um assobio vestiu seu manto branco enquanto subia as escadas. Atravessando o cômodo principal de sua casa, logo encontrou-se na rua. O céu estava pintado de diferentes matizes, e um lado dele permanecia colorido de um azul morto, cinzento e escuro, enquanto os outros eram adornados por laranjas e amarelos vivazes, e até um tímido vermelho níveo escondia-se ao horizonte, tendo sua tonalidade quase imperceptível em meio às outras. O sol evidentemente escondia-se por detrás dos vales distantes, além da virginal relva e dos belos campos floridos que tanto caracterizavam o vilarejo. O dia, só então, começava a se formar.

> Por vezes um trovão surgia, incerto de sua natureza, retumbante e decoroso viajando pelo quarto. E seus olhos, ainda lânguidos, abriam-se parecendo buscar o responsável pelo ruído inesperado, perlustrando todo o laboratório. Mas sua consciência permanecia morta, e a visão agia sozinha.

Isso poderia ser dois períodos do paragrafo anterior.

>E seus olhos, ainda lânguidos

Por que não, "Seus olhos"?

>O doutor, que já dormia sonoramente em seu confortável assento, despertou daquela maneira súbita que nos é típica em dias vagos, nos preguiçosos domingos onde nenhuma obrigação há de nos incomodar, e nem o dormir nem o acordar podem ser considerados atípicos ou luxuosos, mas simples prazeres triviais e deliciosos.

>despertou daquela maneira súbita que nos é típica em dias vagos
Não assuma que o leitor vá saber do que se trata

>e nem o dormir nem o acordar podem ser considerados atípicos ou luxuosos, mas simples prazeres triviais e deliciosos
Existem despertares "luxuosos"? Luxuoso aqui é indulgente? Se indulgente, não há contradição com a oração seguinte?

Trivial aqui é banal? Se banal aos Domingos, então não tem seu sentido contido em "não atípico" sugerido na oração anterior?

Por que não "onde nem o dormir, nem o acordar podem ser considerado atípicos, mas simples prazeres inocentes"?

>além da virginal relva e dos belos campos floridos que tanto caracterizavam o vilarejo

O vilarejo ou a/uma paragem além/ao redor do vilarejo?

>Isso poderia ser dois períodos do paragrafo anterior.

Sim, mas prefiro manter assim.

>Por que não, "Seus olhos"?

Concordo, corrigi essa parte. Sou péssimo para analisar detalhes tão simples assim, entretanto tão importantes.

>Não assuma que o leitor vá saber do que se trata

Esse trecho todo ficou péssimo, só agora o vejo. Escrevi ele pensando nas primeiras páginas de No Caminho de Swann. Provavelmente irei reescreve-lo.

>Existem despertares "luxuosos"? Luxuoso aqui é indulgente? Se indulgente, não há contradição com a oração seguinte?

>Trivial aqui é banal? Se banal aos Domingos, então não tem seu sentido contido em "não atípico" sugerido na oração anterior?

>Por que não "onde nem o dormir, nem o acordar podem ser considerado atípicos, mas simples prazeres inocentes"?

Realmente fica melhor, mas como disse irei reescreve-lo completamente.

>O vilarejo ou a/uma paragem além/ao redor do vilarejo?

É um daqueles lugares que são caracterizados por objetos exteriores a eles. Por exemplo, certa vez estive em uma cidade que era famosa por algo que sequer era parte dela, já que ficava fora dos limites do município: uma montanha distante que era possível ser vista de todos os pontos da cidade. Ou seja, quando falam desse vilarejo dizem "o vilarejo do qual é possível ver vales floridos".